Falta 1 semana para acabar 2020 e vou recapitular aqui o que de mais surreal aconteceu nesse ano que de fato conhecemos uma pandemia ou sindemia, termo que nunca tinha ouvido falar, mas que vou discorrer sobre as várias interpretações que tive sobre o que é ao longo do ano.
O começo do ano já foi um prólogo para os cariocas por conta da Crise da Geosmina na Cedae. Em resumo, com informações que fomos tendo ao longo do ano, o que aconteceu foi um sucateamento intenso (privatização batendo na porta) em conjunto com o dedo (podre) do Pastor Everaldo na administração da empresa pública. O tal pastor, que pelo visto era o governador efetivo no lugar do Wilson Witzel, acabou sendo preso (por outro motivo).
O efeito prático da tal crise foi gosto "de terra" na água da torneira, tornando insuportável mesmo filtrando, fervendo ou passando em filtro de carvão ativo com ultra-violeta. Na prática, quase todo mundo atendido pela Cedae ficou com água ruim, do pobre ao rico, exceto pelo fato de que, quem podia, comprava água mineral. E faltou água mineral no mercado, chegando ao ponto de ter limite de vendas por clientes. Só não foi a totalidade dos clientes da Cedae porque - acabei descobrindo isso - o eixo Niterói, São Gonçalo e Paquetá não são atendidos pelo Guandu, tendo uma estação de tratamento própria.
Em Março, ainda estávamos começando a pegar confiança na água da torneira novamente, com uns litros de água mineral para abrir e veio a notícia que provavelmente desalinhou toda a realidade que conhecemos: Ronaldinho Gaúcho foi preso no Paraguai, por "supostamente" usar passaporte falso num país em que brasileiro nem precisa de passaporte - o Paraguai. A história ficou muito mal contada e acho que nunca saberemos o que de real aconteceu lá e o que pode ter sido abafado. Mas, dado o status de mago do Gaúcho e seu teor aleatório, sendo um pouco supersticioso dá pra acreditar que esse fato fez o mundo começar a catar cavaco. Daí pra frente foi só pandemia.
E então, chegou o corona vírus ao Brasil. Originário supostamente de um pangolim (animal que provavelmente a maioria no Brasil nunca nem tinha ouvido falar) contaminado por morcego sendo devorado cru na China, a princípio, achamos que seria como na epidemia da gripe suína, em que as atividades continuaram normais por aqui, mas algumas restrições aconteceram. Lembro da proibição de bebedouros na faculdade e de ter adotado a prática de lavar bem as mãos ao ter contato com transporte. Mas, por vários motivos, a Covid-19 teve um contágio muito mais intenso e, ao redor do mundo, adotou-se o isolamento social como tentativa principal de mitigar o estrago. Os casos rapidamente se espalharam na China e Itália, de onde os primeiros casos do Brasil foram trazidos.
Ao acontecer o primeiro caso no Brasil, a maioria dos trabalhos presenciais foram reavaliados como home-office ou suspensos. Coincidentemente, surgiu nas primeiras semanas da quarentena o tal meme do Caixão.
Também nas primeiras semanas, surgiu um programa de TV nas manhãs da Globo chamado "Combate ao Coronavírus", com o apresentador Marcio Gomes entrevistando especialistas sobre as medidas que deveriam ser tomadas e dúvidas sobre os sintomas da doença.
Como consequência do isolamento social, as novelas da Globo foram suspensas e entraram reprises no lugar. Os programas de auditório também entraram nas reprises e, aos poucos, foram afrouxando.
Outra imagem marcante das primeiras semanas da quarentena foram as filas gigantescas para o recebimento do Auxílio Emergencial.
E o nosso Presidente conseguiu se superar no quesito de falar besteira, estimulando o negacionismo da doença. Dá pra dividir em fases da "inteligência" bolsonariana:
A doença não existe
A doença mata tanto quanto se não tivesse a doença
Se tiver que morrer uns velhinhos, paciência
É só usar máscara e mandar todo mundo trabalhar
É só tomar cloroquina, nem precisa usar máscara
Vish, contraí a doença. Vou dar entrevista sem máscara
Era nada, não falei?
Ninguém deve tomar a vacina da China
Ninguém deve tomar vacina nenhuma
Tamanha a inteligência que conseguiu brigar com dois ministros da saúde que, por ética, não podiam negar resultados evidentes do avanço do vírus e precisavam falar pra fazer tudo ao contrário que o chefe dizia. Além de brigar com um dos principais cartões de visita do governo falso-moralista: Sérgio Moro.
E não era uma briguinha qualquer, foi a divulgação de uma "mesa redonda" com as piores ideias pelo bem do país.
Só pra destacar alguns absurdos. Imagina isso numa reunião ministerial do Lula... Com direito a 33 palavrões do Messias!
Como um alívio para a pandemia, mas sem parecer ser um sintomia do desalinhamento do universo, foi lançado, após 7 anos sem atualização, uma nova versão do Worms Armageddon, a versão 3.8, atraindo antigos jogadores a voltar a jogar e movimentando uma boa temporada de Roper BR em 2020.
Outro sintoma do desalinhamento do universo foi a saída do Chaves do SBT. E da televisão em geral. Outra informação surreal: O aniversário Guanabara foi cancelado para evitar aglomerações.
Ainda na política, tivemos os casos fora de realidade dos Guardiões do Crivella - pessoas (bem) pagas pelo governo municipal do Rio para avacalhar entrevistas da Globo sobre as condições dos hospitais municipais, além de ameaçar pacientes e funcionários. A prática não é exclusividade do município do Rio - há indícios que Caxias tenha feito isso também, e isso provavelmente é só a ponta do iceberg, dos municípios mais famosos em que esses fatos chegam à nosso conhecimento. Não sendo motivo suficiente para prender ou pelo menos suspender o prefeito, a justiça arrumou algo pior: QG da propina. E, em mais uma manhã, tivemos a boa notícia, como presente de Natal, que o prefeito Crivella estava sendo conduzido para o presídio. Já está em casa, mas com tornozeleira. A acusação é de envolvimento com propina envolvendo plano de saúde. Coincidência a saúde pública estar tão ruim não é mesmo? Enquanto isso, no governo do estado, descobriu-se que o então secretário de educação tinha um cargo fantasama em uma universidade particular - coincidência a UERJ ter tantos problemas, hein...
Completando a trinca da cadeia ungida, tivemos o caso da Pastora e Deputada Flordelis, numa história bizarra de relacionamento entre filhos e irmãos adotivos e um complô bem sucedido para matar - MATAR - o próprio marido. Por sinal, essa foi a única que não pisou na prisão - pela imunidade parlamentar. Curiosamente, pessoas poderosas provavelmente mais influentes que ela foram presas mesmo durante o mandato (o próprio Cunha). Fica difícil entender o motivo e é fácil criar a teoria de que assassinato não é tão grave quanto corrupção. Mas não criemos essa teoria para fake news, temos que nos policiar porque de fake news o inferno já está cheio.
Ainda sobre as derrotas nacionais, tivemos o apagão de 22 dias no Amapá. Após algumas soluções atrasadas de teor paliativo, a solução do problema foi dada - supostamente. Não há garantias que foi feita alguma gambiarra e que o paliativo seja o definitivo. E o mais preocupante, essas gambiarras devem estar espalhadas pelo país todo e um problema desses no Amapá pode acontecer em escala nacional. Mas não temos governo para nos tranquilizar de que isso não vai acontecer ou que temos estrutura para resolver rápido. Coincidentemente, no mês seguinte ao acontecido, entrou em vigor a bandeira vermelha na tarifa de energia. E o presidente pede para "segurar consumo", logo ele que defende a economia, morra quem morrer?
Na política internacional, o destaque é a eleição de Biden contra Trump. Mas, como estamos em 2020, para ser destaque, precisa de um tom surreal: Trump não aceitou até hoje a derrota e inventa fake news do desespero para negar a vitória de Biden. E, como temos aqui, a versão tabajara do Trump, o PR Jair entrou para o seleto grupo de 2 únicos governantes no mundo que não admitiram a vitória de Biden. O outro é o líder supremo da Coreia do Norte. A essa altura, até o Trump já está amolecendo, se duvidar, admite antes do "mito".
E, tal qual um ciclo, dezembro volta com o ápice da segunda onda e com o retorno das trapalhadas com a Cedae. Agora, uma das principais elevatórias teve problema devido a gambiarra. Um conserto que devia ter sido feito meses atrás foi negligenciado e a situação acabou estragando mais peças - e, para consertar, foi mais complicado. Como resultado, muitos lugares ficaram sem água e houve rodízio de água para mitigar os problemas dos locais mais afetados. O problema levou quase o mês inteiro para ser resolvido.
Por fim, volto à questão da sindemia, como prometido. Meu primeiro entendimento do conceito de sindemia seria que a doença por si só teria suas consequências mas, que devido às condições que ela impõe (isolamento social e paranoia), traria outras doenças "por tabela" - e elas seriam a depressão e doenças cardíacas por sedentarismo, por exemplo. Lendo novamente, em outra ocasião, tive o entendimento de que o conceito de sindemia seria o agravante por outras doenças. Ou seja, uma pessoa com diabetes ou deficiência respiratória teria muito mais riscos pelo Covid que pessoas em condições mais brandas, explicando o efeito de A + B > A e B (Covid + Diabetes > Só Covid ou só diabetes). Por fim, tive a interpretação social, de que pessoas mais pobres tem muito mais riscos - condições sanitárias piores, filas nos serviços de saúde e inserção em transporte coletivo lotado. Já um rico - que muitas vezes não se dá conta do privilegio, tem mais chances tendo plano de saúde, tendo água encanada e podendo se locomover de Uber, veículo próprio ou simplesmente não se locomover.
Minhas 3 interpretações podem ser, no fundo, a mesma coisa, o mesmo centro da ideia. E, para fazer o elo com a questão da corrupção, tivemos o efeito da sindemia da corrupção/covid-19, em que a epidemia de corrupção, há anos, já atrapalha nosso desenvolvimento e serviços, teve muito mais impacto com a ação da pandemia de Covid-19, e vice versa, no Brasil.
Agora, vamos torcer para que a vacina não nos torne jacaré. A paranoia do presidente lembra o episódio da epidemia de gripe do Rick and Morty, em que o cientista acaba criando e espalhando, de forma desleixada, uma variante da gripe que torna as pessoas agressivas e possessivas e a cada tentativa de antídoto, a situação só piora.
Enfim, que 2021 seja mais tranquilo, com menos fake news, menos cortinas de fumaça do presidente, vacinas confiáveis e eficazes e mais saúde mental.
Carioca, Brasileiro, Estudante de Robótica Hiperativo, Imperativo Gosto de tecnologia, de transporte, de Rock, de reclamar e de propagandas criativas (e outras coisas que posso ter falado em um post ou não)
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