11 de set. de 2011

Resenha: "Nós e o Universo" de Ernesto Sábato - Dicionário de Filosofia e Ciência

Este livro, em forma de dicionário, descreve de forma sucinta (com algumas exceções de termos com mais de 2 páginas, em especial os de nazismo) algumas passagens recorrentes à época em que foi escrito, no contexto de guerra mundial, nazismo, mecânica quântica. Foi a obra de estréia (com acento) do escritor que ficou bem famoso e que o professor Osvaldo incentivou bastante a ler (ainda estou procurando coisas, é difícil, encontrei esse aí em sebo casualmente e nem tinha essa edição traduzida no Skoob).

Bom, o livro é fininho, vale a pena, ainda que tenha achado algumas partes chatas e enrolação, em especial as de filosofia, outras que não entendi bem porque citava autores que desconheço. As de ciência, por outro lado, me prenderam bastante a atenção porque ele, ao mesmo tempo que escreveu ficção, também era formado em física e podia falar disso sem ser uma bobagem sem tamanho que alguns escrevem aí sobre o mundo quântico. Basicamente, descreve bem o ambiente de pesquisa e como algumas pessoas, de fato, poderiam saber um pouco mais sobre humildade.

As pedras de Berkeley , que eu não conhecia, mas que, de fato apresentam um contra-argumento que já havia pensado. Se estamos sonhando e topar com uma pedrinha é a prova de que não estamos acordando, a pedrinha e a dor da topada não podem, também, ser parte do sonho?

"Durante séculos, o homem comum teve mais fé na feitiçaria que na ciência: para ganhar a vida, Kepler necessitou trabalhar como astrólogo"
Irônica essa situação... Só que, pra dizer a verdade, muita gente por aí dá mais atenção a bobagens ditas por "magos" que para cientistas, não é verdade? E, mesmo saindo do campo da astronomia, o pitaco é uma prática bem comum e o desprezo a quem estudou.

Aborda o limite entre a fé e a comprovação científica em "tampouco tem sentido uma afirmação como 'tenho fé no principio da conservação da energia'", já que a matemática não se tem fé ou não, mas se tem uma prova e contra ela, não há o que argumentar. E, neste mesmo campo, comenta sobre a "física a posteriori" e "a priori", uma sendo fruto de dados experimentais e a outra, de teorias a serem comprovadas. (Mais do assunto em http://www.mundodosfilosofos.com.br/kant.htm)  Os exemplos utilizados por Sábato desse último caso são a relatividade e o princípo da  incerteza. Creio que seja bom lembrar como algumas vezes, o cientista pode se esquecer da natureza e fazer algo do tipo "a natureza explica minha equação" em vez do contrário.

Desvenda que a "famosa frase" de Einstein de "tudo é relativo" nunca foi pronunciada, o que nos leva à quantidade de bobagem decorrente disso ainda por cima é em cima de uma frase sequer dita.

Em "Frescor", discorre sobre a relação entre criatividade e maturidade, de maneira que a criatividade está relacionada à juventude e pode ser lapidada pela experiência, na maturidade. Menciona "República" de Platão, Nietzsche e Heidegger como influências ao nazismo, e aponta outros ideólogos do nazismo.

"Quando um enamorado  afirma um amor infinito, sua forma de falar deve ser denunciada como uma forma filosoficamente irresponsável"

"Um homem inteligente não se caracteriza por não cometer erros, mas por estar disposto a corigir os cometidos"

Lembra dos filósofos que tiram suas impressões, sem entender a matemática, cada vez menos intuitiva, de uma conclusã científica, muitas vezes de forma equivocada, apresentando o exemplo da suposta relação entre o princípio de incerteza e a escrita automática de André Breton. Cita Crime e Castigo com Raskolnikov. Descreve como o senso comum pode atrapalhar a ciência.

"O senso comum rechaça os fantasmas desconhecidos mas aceita os fantasmas familiares"

Um trecho bem interessante e esclarecedor é sobre o aprendizado de crianças:

"As crianças não sabem raciocinar com números puros: precisam soar maãs ou livros; muito mais tarde, inconscientemente, prescindem dos objetos físicos e calculam com números puros , abstraídos da realidade física por um longo processo mental"

E não posso deixar de destacar o capítulo "Idade", que pode ser lido aqui: http://ahvaproinferno2.blogspot.com/ 2011/08/idade-ernesto-sabato.html

Referêcias:
The philosofy of physical science - Eddington: trata da linha divisória entre ciência e filosofia

*ao som de Dream Theater (Sacrificed Sons) e Legião Urbana (Comédia Romântica)

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Raphael Fernandes
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Musicalmente falando, sou assim.

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